quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Iglo nos Caminhos de Santiago | Etapa 5


E eis que era chegado o dia de chegar a Santiago! A pressão para estarmos lá a tempo de engatar a missinha fizeram com que nos levantássemos mais cedo, apesar de a etapa ser mais curta... 14 kms pelos nossos mapas, 17 kms marcava a 1ª vieira que encontramos... definitivamente este caminho encolhia e esticava a um ritmo que não era o nosso!


Nesta última etapa as ocupantes da nossa vda iam fazer-se ao caminho connosco! Partimos, portanto, com cuidados redobrados, até porque o céu, carregadamente negro, ameaçava trovoada das bravas. E dito e feito, ainda Sigüeiro se avistava na curva da estrada já nós faziamos a 1ª paragem técnica para colocarmos os impermeáveis, ou na falta deles, outras indumentárias igualmente desapropriadas... isto porque para o dilúvio que se seguiu não havia indumentárias apropriada que nos valesse... as palavras falham na hora de descrever os 30 minutos, que pareceram 3000, em que fomos fustigados por chuva e vento, ao som de trovões e clarões de relâmpagos que rebentavam em cima de nós com uma precisão cronométrica. E quando as palavras falham, ficam as imagens... a gente já tinha tido oportunidade de apreciar em Santiago 427 mil modelos de t-shirts do peregrino, com variantes do tema lluvia... mas nunca pensamos que fosse isto...


Após uma eternidade (acreditem que não só nos pareceu isso como de facto o foi!) um arco-íris veio selar connosco o compromisso de chegarmos a Santiago! E o sol raiou o suficiente para podermos secar durante resto do caminho!


Mesmo depois da melhoria das condições climatéricas, a etapa revelou algumas dificuldades... comme d’habitude a última etapa é a mais pesada... e vulgarmente apelidada de “Etapa da Manca”! Como continuavamos com a moral em baixo (debaixo do peso da roupa molhada que ainda trazíamos) não foi nada fácil sermos ultrapassados, novamente, pelos peregrinos zaragonenses, que pareciam ter recarregado baterias directamente a partir do raio do trovão...


E para alterar esse baixo estado moral nada melhor que uma paragem técnica para recompor as forças... aonde, aonde? bem juntinho a um monte de gigantescas amoras! e para quem não é assim tão fã das amoras ainda houve a oportunidade de ir apanhar morangos, mesmo junto à nacional que liga Sigüeiro a Santiago... é o chamado gato escondido com rabo de fora, só que neste caso ainda era pior porque o dito gato tinha uma CAMISOLA ROSAAAA! prémio apanha de morangos!!!!


Apesar do sol raiar, as nuvens ameaçadoras que se tinham concentrado sobre nós durante o início do caminho continuavam a emprestar uma cor negra ao céu, e estavam a dar uma luta feroz a qualquer incauto raiozinho de sol que se atrevesse um pouco mais em direcção à troposfera. A realidade parecia assim saída directamente de um filme do Tim Burton, e mesmo a chegar a Santiago, seres estranhos, de 4 e por vezes mais patas, podiam ser vistos a desafiar a nova intempérie que sobre nós se abateu, muito bem camuflados, tão bem, mas tão bem disfarçados, que quem não soubesse diria tratar-se de um toldo verde ambulante...


a chuva toldava a visão e o facto de os postes saltarem prá frente de quem procurava avançar até Santiago também não ajudava nada a chegar ao fim do caminho!


A chegada à meta (leia-se à Plaza do Obradoiro) foi feita já em cima do soar do gongo! Ainda houve tempo para tirar a foto da praxe, ainda houve tempo para contemplar a fachada da catedral e maravilharmo-nos mais uma vez com o facto de termos chegado, mas a missinha, a ser engatada, era agora ou nunca, de maneira que centramos o nosso olhar, durante a hora seguinte na bela poça de água que deixamos debaixo de nós na catedral...


Era já hora de almoço, quer pelo nosso horário, quer pelo espanhol, e havia quem estivesse com vontade de chegar ao kebab antes de todos os outros, certamente fruto da quantidade de vezes que durante o caminho tinha tentado ganhar uma etapa... até que tivemos de lhe explicar que agora a cena de ganhar etapas tava off... se queria ter ganho era antes ter dado à perna, agora azarito...


Esta menção ao horário espanhol levou-me a certas reminiscências, confidências pessoais que aqui partilho, pois um dos luxos a que me dei durante o caminho foi o de deixar o relógio e o telemóvel na mala da vda... mas por vezes, a força do hábito sobrepunha-se, e lá me saía a incontornável pergunta: “que horas são?”... que quase invariavelmente era respondida com outra pergunta, pelos vistos não menos incontornável: “em Espanha?”... pois claro que é em Espanha!!! nós estamos em Espanha!!! e depois é este povo, que parece que sofre de jet lag de uma horita, pelo menos a avaliar pela forma como fala do fuso horário, que ainda se dá ao luxo de gozar quem, em cima de pontes, se julga momentaneamente em pátria lusa e pergunta candidamente: “já chegamos a Espanha?” mas reminiscências à parte... feita que estava a escala obrigatória no kebab, visto que dois Igloeiros já tinham tido oportunidade de cumprir a tradição do Burguer King, era altura de recuperarmos a outra vda, que tinha ficado uma semanita em Santiago e o super 5! Para compensar o facto de termos deixado a outra vda triste só e abandonada, tivemos o cuidado de alugar instalações em hotel de luxo! A coisa a princípio ameaçava ficar um bocado cara... mas depois, a regularidade da estadia e a beleza da nossa vdazita deram mostras de enternecer o coração de gerentes empedernidos... de forma que achamos que se só a fossemos buscar hoje ainda a tirávamos de lá a custo zero! A viagem até Sigüeiro, para trazer connosco a vda do caminho trouxe belas recordações da etapa que percorreramos...


E quando finalmente tinhamos connosco ambas as vdas e o super 5 rumamos ao Monte do Gozo onde ciganamente nos instalamos 9 em quarto de 8!... a culpa foi do igloeiro que primeiro não vinha, e depois não ficava em Santiago, e que afinal não só veio como ainda ficou!... ainda houve quem tentasse connects noutros quartos, como trabalho de, como direi, prospecção, para um outro blog... duma tal de seita... mas a moral e bons costumes ditaram que se era pa dormir às camadas uns em cima dos outros, então pelo menos que fosse com os nossos gaijos!


A noite prometia... mas ainda antes disso era altura de voltar a Santiago para as obrigatórias compras e espectáculos à gorra... sempre com muito AMOR!...


De regresso ao Monte do Gozo, a noite prometia... mas nada se comparava ao espectáculo que se viu cá fora! Trovões e mais trovões, raios e mais raios, céu rasgado de branco, céu rasgado de rosa, céu rasgado de laranja... do alto to Monte do Gozo, e até onde a vista alcançava, Santiago era uma hiper mega disconight que emitia exclamações ao ritmo de algum freak vj apostado em fazer história!


Alvorada no Monte do Gozo com muita e muita e muita chuva! Lá empacotamos tudo nas agora 3! vdas de serviço, e fomos em busca do tradicional pequeno almoço... como se não bastasse a chuveirada do céu, outro banho de água fria: o pequeno almoço da tradição teria de ser descontinuado... porque a casa já não existia (aliás nem a casa que se lhe seguiu se aguentou)... felizmente há mais tradições pró caminho do que aquelas que se veem à primeira vista e o igloeiro mor das tradições do caminho foi capaz de contornar este precalço...


Mais compritas e... Manolo que se faz tarde!... temos que admitir, por muito que nos custe após tão rasgados elogios que lhe tecemos anteriormente... o almoço do Manolo, comparado com o do Cortes não valeu foi nada! A barriga, mesmo assim, cheia, compras feitas, Santiago a ameçar esvair-se em chuva durante o resto do dia... lá nos dividimos pelos carros aos quais agora até já sobravam lugares e aproveitamos para ir relembrando o caminho português enquanto percorriamos a nacional 550, de volta a casa!


escrito por | uiulala

1 comentário:

cláudia disse...

hum... e bolhas? há saldos de bolhas ? este ano foram mesmo muito menos. Mas houve quem, em apenas uma atapa conseguisse fazer uma grande bolha... foi da velocidade do andamento...
eheheh
e quando chegamos ao porto? a igloeira da areia street veio ao nosso encontro e comemoramos no gouvinhas place a chegada...