quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Iglo nos Caminhos de Santiago | Etapa 4

senhoras e senhores, os amigos do iglo quentinho (produções) orgulham-se de apresentar, uma vez mais, convosco, as etapas do caminho!


Depois de uma noite bem (mal) dormida, em que se provou que nem só os igloeiros têm vocação para sonhar alto e compassado, lá conseguimos erguer-nos e no meio da escuridão, procurar as botas pó caminho, não as trocar com os outros 57 pares que estavam pousados na parte de fora do albergue, e arrancar cedinho. Os nossos arranques matinais são famosos... há quem jure a pés juntos que é nessas alturas que andamos à estonteante velocidade de 4 km/h!!!! Isto, senhoras e senhores, não é pra qualquer um! não, não, não... gente haverá que, querendo fazer connosco somente uma etapa, terá sérias dificuldades em acompanhar este alucinante ritmo! Mas enquanto isso não ocorre, voltemos ao caminho e ao nosso arranque matinal...

Se calhar convém frisar que o sair da cama, calçar a botinha e começar a andar poderá equivaler a acordar para muito boa gente... mas não para toda! Nós, no Iglo, já por causa das coisas, temos um plano devidamente faseado e patenteado em que o povo vai acordando por partes... a coisa dá-se assim: primeiro duas igloeiras não se cansam de dizer asneiras (vulgo merda), sobre tudo e mais frequentemente sobre nada... depois os igloeiros vão-se atrevendo a pouco e pouco a mandar também umas bojardas, e finalmente há quem só acorde depois de tomar o seu café... se por acaso se der o caso de estar no meio do nada e não houver café num raio de vários kms pura e simplesmente salta-se a etapa do acordar e mantém-se o piloto automático em modo ON...

Esta etapa era conhecida como “A da descida” e ainda bem... porque se o caminho subia mais um pouquito que fosse iamos ter uma insurreição nas hostes. Mas segundo nos disse o amabilíssimo encarregado do albergue, dali até Santiago era sempre a descer! Mas mesmo assim esta descida revelou-se faseada, que é como quem diz, às lombas... e diga-se que ainda houve umas descidas ao alto que deram a sua luta... mas a gana da CAMISOLA ROSAAAA mostrou mais uma vez a sua raça e venceu o prémio montanha!!!... vá, este era prémio colina... quem não mostrou a sua raça foi a grande vencedora da etapa do dia anterior, que se dedicou a ver a competição pelo prémio da etapa lá longe, vislumbrando as formas dos corredores por entre o pó que a sua corrida, ladeira acima, ia levantando do chão, o que lhe granjeou o direito a ganhar o prémio “etapa eu é que não sou tola!”


Convém realçar que os peregrinos que no dia anterior tinham chegado ao albergue carregando a sua mochila, dentro de um táxi, estavam sequiosos de mostrar que nos metiam num bolso, com mochila e tudo!!! e efectivamente, tendo descansado todo o dia anterior, era vê-los a andar, andar, andar... ainda tentamos umas manobras de diversão, seguidas de um mais enfático “que no vais a passar” pero... mas a desilusão de termos sido ultrapassados durou pouco porque entretanto entramos num quadro surreal... literalmente!

Depois de no dia anterior o caminho vindo da A Coruña se ter juntado com o nosso ainda pensamos que a marcação das vieiras pudesse agora informar-nos correctamente às quantas andávamos... pura ilusão! Depois de um início promissor as vieiras voltaram à sua proverbial desinformação e nós preparamo-nos para enfrentar uma prodigiosa recta baseados no GPS interno do Ferraz, o que é sempre bom!

Eu digo, nunca mais reclamo da recta de Porriño!.. bem, pelo menos até a fazer de novo... esta era bem maior, mas bem maior (3 km dela)! com inúmeras lombas que desvendavam outras tantas rectas finalizadas por outras tantas lombas que quando vencidas (CAMISOLA ROSAAAA!!!) abriam o horizonte para outra recta terminada em lomba... Só não ganha mesmo, mesmo a Porriño porque o polígono industrial só surge lá no fundo, mesmo junto a Sigüeiro (é favor ler o u), local onde iria finalmente terminar a rectilínea etapa descendente.

Sigüeiro, sendo uma cidade, faz um bom contraste com Bruma! Tem lojas (Ferraz salta esta parte sim?), cafés e... piscina!!! O caminho passa mesmo, mesmo ao lado de uma piscina à entrada de Sigüeiro, a 50 mts do pavilhão que alberga os peregrinos... com uma etapa de 23 kms em cima, com o calor das 14h a bombar, não há como resistir... a entrada na piscina é 1.5€, a touca (obrigatória, sim... até para os carecas? sim, por supuesto que sim!) é 4€... o povo estrabucha mas paga! ... levamos pá vida: caminho sempre com touca! Não pesa nada e nunca se sabe quando poderemos ter de pagar couro e cabelo pra proteger o dito...


Claro que nem todos temos as mesmas necessidades de nos refrescarmos, e houve quem ficasse fora da piscina a estabelecer connects com os outros peregrinos (actividade na qual nós no Iglo somos muito bons!)... de modo que como os peregrinos eram de Zaragoça quando saimos da piscina, para além de virmos fresquinhos, ainda tinhamos alojamento garantido pa ir à Expo!

A protecção civil só abria o pavilhão as 17h e a essa hora lá estávamos nós prontinhos, à porta, aguardando o tão esperado momento de nos bañarmos com gel de baño e champô. Os nossos amigos peregrinos de Zaragoça (sim, que depois dos connects já éramos amigos do peito!) saíram para comprar uma comidinha enquanto nós fazíamos uma vez mais uso da nossa vda e do facto de as Joanas já a terem enchido de comida! Quando nós quisemos ir embora fomos cuidadosos em recolher a roupita dos zaragonenses que secava no exterior do pavilhão... amizade... tem destas coisas...


E lá arrancamos para visitar Sigüeiro, uns... a farmácia de Sigüeiro, outros... compritas, café, cañas... tava na hora de pensar em jantar... um igloeiro tinha informações acerca de um café/restaurante logo ali, numa ilhota, depois de um passeiozito junto ao rio... e lá fomos nós, seguindo o mapa e seguindo o rio... por um trilho de uma beleza inigualável, ladeado por capim alto, com árvores frondosas a torcerem-se para o rio, que corria ligeiro sobre um manto de musgo e nenúfares, cheio de pássaros e outros animais de duas pernas a aproveitarem tudo o que aquele cenário tinha para oferecer... apesar disso, o combinado era ir ali ao café e seguindo e mapa, e seguindo o rio, e tornando a seguir o mapa e tornando a seguir o rio não havia café que se avistasse... e para além de não se avistar café, o que se avistava do caminho era cada vez mais... rio!

mas nós mantivemo-nos firmes no nosso princípio de andar até espichar, e só paramos quando chegamos à tal ilhota com o café... fechado! Para que não houvesse um motim foi altura de tirarmos a foto do Iglo, a foto por excelência, aquela onde estamos todos, todos, mas mesmo todos... ora reparem...

mesmo depois desta caminhada extra, e de todo o estrabucho que a mesma acarretou, ainda houve forças para continuar a confiar no mapa e foi o que de melhor fizemos! Jantarzinho no restaurante Cortes, bem melhor que o Manolo e praticamente pelo mesmo preço! É caso para dizer que vale a pena ir a Sigüeiro só para este magnífico repasto!

E como comida comida companhia desfeita era altura de voltar ao pavilhão... onde já se encontravam a dormir os peregrinos de Zaragoça, que não se tinham ido deitar sem terem tido o cuidado de colocarem 9 colchõezinhos no chão... para nosotros??? mas si, claro, cariño... agora somos amigos do peito!... ou isso ou esta foi uma manobra estratégica para minimizar possíveis incómodos de roncos nocturnos ... amizade... tem destas coisas...

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