quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Apesar de tudo .... Parabéns Sandra!!!!

O calendário aproxima-se vertiginosamente do final do mês de Setembro, e as actividades secretas e intimidatórias dos igloeiros, sobem exponencialmente o que provoca um alvoroço próprio da aproximação de mais uma data importante para o nosso clã!!!

O ambiente é preparado ao pormenor, e tudo está pronto para mais um cumbibio ( sim, um cumbibio!!!) e desta vez num sitio nunca antes explorado, a casa nova da familia Vieira....para festejar o aniversário de uma menina a quem um dia chamaram Isabel, Sandra Isabel.


A nossa viagem a esse novo mundo começou pelo reconhecimento do novo territorio que tinhamos tomado de assalto. Depressa descobrimos a localização do novo albergue do Iglô, que por motivos de segurança terá que continuar incógnito, assim como do estúdio dos Amigos do Iglô Produções. Definitivamente ficamos apaixonados pela terra à tanto tempo prometida...

Voltemos ao Cumbibio.... desta vez quem foi chamada a testar os seus dotes de cozinheira foi a aniversariante Isabel, Sandra Isabel que mais uma vez nos surpreendeu com os seus dotes culinários... Um repasto digno de Reis, preparado cuidadosamente na Confeitaria Real (acham isto possível??)....

e lá estavamos a disfrutar daquele fabuloso sofá ( ja reforçados com as N&N!! que entretanto chegaram ...CENSURADO...) quando bateu a meia noite, hora de cantar os parabéns ( e desta vez sem abraços e beijos do elemento canino do Iglo..) à nossa aniversariante.

Após cumprir todas as tradições que um aniversário exige seguiu-se o momento que todos suspiravam... A Isabel, Sandra Isabel tornou-se Igloeira...mais do que nunca ela sentiu perto o seu melhor amigo, o Vitinho...ela ainda duvidou dos poderes dos restantes igloeiros, mas sim o Vitinho tava ali presente...

A noite caminhava rapidamente para o fim, mas há sempre tempo para mais uma dança... são dadas todas as condições à nossa bailarina de serviço, a roupa a condizer e apropriada ao estilo musical, tá tudo pronto para um grande espectaculo...mas eis que algo acontece... a bailarina recusa se a actuar...ninguem quer acreditar mas ela está irredutivel....

Sim, ficarás eternamente a dever uma dança a todos os Amigos do Iglô, que tanto se esforçaram por te proporcionar esse momento de brilho...

Por isso,

E Apesar de tudo... Parabéns Sandra!!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Iglo nos Caminhos de Santiago | Etapa 5


E eis que era chegado o dia de chegar a Santiago! A pressão para estarmos lá a tempo de engatar a missinha fizeram com que nos levantássemos mais cedo, apesar de a etapa ser mais curta... 14 kms pelos nossos mapas, 17 kms marcava a 1ª vieira que encontramos... definitivamente este caminho encolhia e esticava a um ritmo que não era o nosso!


Nesta última etapa as ocupantes da nossa vda iam fazer-se ao caminho connosco! Partimos, portanto, com cuidados redobrados, até porque o céu, carregadamente negro, ameaçava trovoada das bravas. E dito e feito, ainda Sigüeiro se avistava na curva da estrada já nós faziamos a 1ª paragem técnica para colocarmos os impermeáveis, ou na falta deles, outras indumentárias igualmente desapropriadas... isto porque para o dilúvio que se seguiu não havia indumentárias apropriada que nos valesse... as palavras falham na hora de descrever os 30 minutos, que pareceram 3000, em que fomos fustigados por chuva e vento, ao som de trovões e clarões de relâmpagos que rebentavam em cima de nós com uma precisão cronométrica. E quando as palavras falham, ficam as imagens... a gente já tinha tido oportunidade de apreciar em Santiago 427 mil modelos de t-shirts do peregrino, com variantes do tema lluvia... mas nunca pensamos que fosse isto...


Após uma eternidade (acreditem que não só nos pareceu isso como de facto o foi!) um arco-íris veio selar connosco o compromisso de chegarmos a Santiago! E o sol raiou o suficiente para podermos secar durante resto do caminho!


Mesmo depois da melhoria das condições climatéricas, a etapa revelou algumas dificuldades... comme d’habitude a última etapa é a mais pesada... e vulgarmente apelidada de “Etapa da Manca”! Como continuavamos com a moral em baixo (debaixo do peso da roupa molhada que ainda trazíamos) não foi nada fácil sermos ultrapassados, novamente, pelos peregrinos zaragonenses, que pareciam ter recarregado baterias directamente a partir do raio do trovão...


E para alterar esse baixo estado moral nada melhor que uma paragem técnica para recompor as forças... aonde, aonde? bem juntinho a um monte de gigantescas amoras! e para quem não é assim tão fã das amoras ainda houve a oportunidade de ir apanhar morangos, mesmo junto à nacional que liga Sigüeiro a Santiago... é o chamado gato escondido com rabo de fora, só que neste caso ainda era pior porque o dito gato tinha uma CAMISOLA ROSAAAA! prémio apanha de morangos!!!!


Apesar do sol raiar, as nuvens ameaçadoras que se tinham concentrado sobre nós durante o início do caminho continuavam a emprestar uma cor negra ao céu, e estavam a dar uma luta feroz a qualquer incauto raiozinho de sol que se atrevesse um pouco mais em direcção à troposfera. A realidade parecia assim saída directamente de um filme do Tim Burton, e mesmo a chegar a Santiago, seres estranhos, de 4 e por vezes mais patas, podiam ser vistos a desafiar a nova intempérie que sobre nós se abateu, muito bem camuflados, tão bem, mas tão bem disfarçados, que quem não soubesse diria tratar-se de um toldo verde ambulante...


a chuva toldava a visão e o facto de os postes saltarem prá frente de quem procurava avançar até Santiago também não ajudava nada a chegar ao fim do caminho!


A chegada à meta (leia-se à Plaza do Obradoiro) foi feita já em cima do soar do gongo! Ainda houve tempo para tirar a foto da praxe, ainda houve tempo para contemplar a fachada da catedral e maravilharmo-nos mais uma vez com o facto de termos chegado, mas a missinha, a ser engatada, era agora ou nunca, de maneira que centramos o nosso olhar, durante a hora seguinte na bela poça de água que deixamos debaixo de nós na catedral...


Era já hora de almoço, quer pelo nosso horário, quer pelo espanhol, e havia quem estivesse com vontade de chegar ao kebab antes de todos os outros, certamente fruto da quantidade de vezes que durante o caminho tinha tentado ganhar uma etapa... até que tivemos de lhe explicar que agora a cena de ganhar etapas tava off... se queria ter ganho era antes ter dado à perna, agora azarito...


Esta menção ao horário espanhol levou-me a certas reminiscências, confidências pessoais que aqui partilho, pois um dos luxos a que me dei durante o caminho foi o de deixar o relógio e o telemóvel na mala da vda... mas por vezes, a força do hábito sobrepunha-se, e lá me saía a incontornável pergunta: “que horas são?”... que quase invariavelmente era respondida com outra pergunta, pelos vistos não menos incontornável: “em Espanha?”... pois claro que é em Espanha!!! nós estamos em Espanha!!! e depois é este povo, que parece que sofre de jet lag de uma horita, pelo menos a avaliar pela forma como fala do fuso horário, que ainda se dá ao luxo de gozar quem, em cima de pontes, se julga momentaneamente em pátria lusa e pergunta candidamente: “já chegamos a Espanha?” mas reminiscências à parte... feita que estava a escala obrigatória no kebab, visto que dois Igloeiros já tinham tido oportunidade de cumprir a tradição do Burguer King, era altura de recuperarmos a outra vda, que tinha ficado uma semanita em Santiago e o super 5! Para compensar o facto de termos deixado a outra vda triste só e abandonada, tivemos o cuidado de alugar instalações em hotel de luxo! A coisa a princípio ameaçava ficar um bocado cara... mas depois, a regularidade da estadia e a beleza da nossa vdazita deram mostras de enternecer o coração de gerentes empedernidos... de forma que achamos que se só a fossemos buscar hoje ainda a tirávamos de lá a custo zero! A viagem até Sigüeiro, para trazer connosco a vda do caminho trouxe belas recordações da etapa que percorreramos...


E quando finalmente tinhamos connosco ambas as vdas e o super 5 rumamos ao Monte do Gozo onde ciganamente nos instalamos 9 em quarto de 8!... a culpa foi do igloeiro que primeiro não vinha, e depois não ficava em Santiago, e que afinal não só veio como ainda ficou!... ainda houve quem tentasse connects noutros quartos, como trabalho de, como direi, prospecção, para um outro blog... duma tal de seita... mas a moral e bons costumes ditaram que se era pa dormir às camadas uns em cima dos outros, então pelo menos que fosse com os nossos gaijos!


A noite prometia... mas ainda antes disso era altura de voltar a Santiago para as obrigatórias compras e espectáculos à gorra... sempre com muito AMOR!...


De regresso ao Monte do Gozo, a noite prometia... mas nada se comparava ao espectáculo que se viu cá fora! Trovões e mais trovões, raios e mais raios, céu rasgado de branco, céu rasgado de rosa, céu rasgado de laranja... do alto to Monte do Gozo, e até onde a vista alcançava, Santiago era uma hiper mega disconight que emitia exclamações ao ritmo de algum freak vj apostado em fazer história!


Alvorada no Monte do Gozo com muita e muita e muita chuva! Lá empacotamos tudo nas agora 3! vdas de serviço, e fomos em busca do tradicional pequeno almoço... como se não bastasse a chuveirada do céu, outro banho de água fria: o pequeno almoço da tradição teria de ser descontinuado... porque a casa já não existia (aliás nem a casa que se lhe seguiu se aguentou)... felizmente há mais tradições pró caminho do que aquelas que se veem à primeira vista e o igloeiro mor das tradições do caminho foi capaz de contornar este precalço...


Mais compritas e... Manolo que se faz tarde!... temos que admitir, por muito que nos custe após tão rasgados elogios que lhe tecemos anteriormente... o almoço do Manolo, comparado com o do Cortes não valeu foi nada! A barriga, mesmo assim, cheia, compras feitas, Santiago a ameçar esvair-se em chuva durante o resto do dia... lá nos dividimos pelos carros aos quais agora até já sobravam lugares e aproveitamos para ir relembrando o caminho português enquanto percorriamos a nacional 550, de volta a casa!


escrito por | uiulala

O Iglo nos Caminhos de Santiago | Etapa 4

senhoras e senhores, os amigos do iglo quentinho (produções) orgulham-se de apresentar, uma vez mais, convosco, as etapas do caminho!


Depois de uma noite bem (mal) dormida, em que se provou que nem só os igloeiros têm vocação para sonhar alto e compassado, lá conseguimos erguer-nos e no meio da escuridão, procurar as botas pó caminho, não as trocar com os outros 57 pares que estavam pousados na parte de fora do albergue, e arrancar cedinho. Os nossos arranques matinais são famosos... há quem jure a pés juntos que é nessas alturas que andamos à estonteante velocidade de 4 km/h!!!! Isto, senhoras e senhores, não é pra qualquer um! não, não, não... gente haverá que, querendo fazer connosco somente uma etapa, terá sérias dificuldades em acompanhar este alucinante ritmo! Mas enquanto isso não ocorre, voltemos ao caminho e ao nosso arranque matinal...

Se calhar convém frisar que o sair da cama, calçar a botinha e começar a andar poderá equivaler a acordar para muito boa gente... mas não para toda! Nós, no Iglo, já por causa das coisas, temos um plano devidamente faseado e patenteado em que o povo vai acordando por partes... a coisa dá-se assim: primeiro duas igloeiras não se cansam de dizer asneiras (vulgo merda), sobre tudo e mais frequentemente sobre nada... depois os igloeiros vão-se atrevendo a pouco e pouco a mandar também umas bojardas, e finalmente há quem só acorde depois de tomar o seu café... se por acaso se der o caso de estar no meio do nada e não houver café num raio de vários kms pura e simplesmente salta-se a etapa do acordar e mantém-se o piloto automático em modo ON...

Esta etapa era conhecida como “A da descida” e ainda bem... porque se o caminho subia mais um pouquito que fosse iamos ter uma insurreição nas hostes. Mas segundo nos disse o amabilíssimo encarregado do albergue, dali até Santiago era sempre a descer! Mas mesmo assim esta descida revelou-se faseada, que é como quem diz, às lombas... e diga-se que ainda houve umas descidas ao alto que deram a sua luta... mas a gana da CAMISOLA ROSAAAA mostrou mais uma vez a sua raça e venceu o prémio montanha!!!... vá, este era prémio colina... quem não mostrou a sua raça foi a grande vencedora da etapa do dia anterior, que se dedicou a ver a competição pelo prémio da etapa lá longe, vislumbrando as formas dos corredores por entre o pó que a sua corrida, ladeira acima, ia levantando do chão, o que lhe granjeou o direito a ganhar o prémio “etapa eu é que não sou tola!”


Convém realçar que os peregrinos que no dia anterior tinham chegado ao albergue carregando a sua mochila, dentro de um táxi, estavam sequiosos de mostrar que nos metiam num bolso, com mochila e tudo!!! e efectivamente, tendo descansado todo o dia anterior, era vê-los a andar, andar, andar... ainda tentamos umas manobras de diversão, seguidas de um mais enfático “que no vais a passar” pero... mas a desilusão de termos sido ultrapassados durou pouco porque entretanto entramos num quadro surreal... literalmente!

Depois de no dia anterior o caminho vindo da A Coruña se ter juntado com o nosso ainda pensamos que a marcação das vieiras pudesse agora informar-nos correctamente às quantas andávamos... pura ilusão! Depois de um início promissor as vieiras voltaram à sua proverbial desinformação e nós preparamo-nos para enfrentar uma prodigiosa recta baseados no GPS interno do Ferraz, o que é sempre bom!

Eu digo, nunca mais reclamo da recta de Porriño!.. bem, pelo menos até a fazer de novo... esta era bem maior, mas bem maior (3 km dela)! com inúmeras lombas que desvendavam outras tantas rectas finalizadas por outras tantas lombas que quando vencidas (CAMISOLA ROSAAAA!!!) abriam o horizonte para outra recta terminada em lomba... Só não ganha mesmo, mesmo a Porriño porque o polígono industrial só surge lá no fundo, mesmo junto a Sigüeiro (é favor ler o u), local onde iria finalmente terminar a rectilínea etapa descendente.

Sigüeiro, sendo uma cidade, faz um bom contraste com Bruma! Tem lojas (Ferraz salta esta parte sim?), cafés e... piscina!!! O caminho passa mesmo, mesmo ao lado de uma piscina à entrada de Sigüeiro, a 50 mts do pavilhão que alberga os peregrinos... com uma etapa de 23 kms em cima, com o calor das 14h a bombar, não há como resistir... a entrada na piscina é 1.5€, a touca (obrigatória, sim... até para os carecas? sim, por supuesto que sim!) é 4€... o povo estrabucha mas paga! ... levamos pá vida: caminho sempre com touca! Não pesa nada e nunca se sabe quando poderemos ter de pagar couro e cabelo pra proteger o dito...


Claro que nem todos temos as mesmas necessidades de nos refrescarmos, e houve quem ficasse fora da piscina a estabelecer connects com os outros peregrinos (actividade na qual nós no Iglo somos muito bons!)... de modo que como os peregrinos eram de Zaragoça quando saimos da piscina, para além de virmos fresquinhos, ainda tinhamos alojamento garantido pa ir à Expo!

A protecção civil só abria o pavilhão as 17h e a essa hora lá estávamos nós prontinhos, à porta, aguardando o tão esperado momento de nos bañarmos com gel de baño e champô. Os nossos amigos peregrinos de Zaragoça (sim, que depois dos connects já éramos amigos do peito!) saíram para comprar uma comidinha enquanto nós fazíamos uma vez mais uso da nossa vda e do facto de as Joanas já a terem enchido de comida! Quando nós quisemos ir embora fomos cuidadosos em recolher a roupita dos zaragonenses que secava no exterior do pavilhão... amizade... tem destas coisas...


E lá arrancamos para visitar Sigüeiro, uns... a farmácia de Sigüeiro, outros... compritas, café, cañas... tava na hora de pensar em jantar... um igloeiro tinha informações acerca de um café/restaurante logo ali, numa ilhota, depois de um passeiozito junto ao rio... e lá fomos nós, seguindo o mapa e seguindo o rio... por um trilho de uma beleza inigualável, ladeado por capim alto, com árvores frondosas a torcerem-se para o rio, que corria ligeiro sobre um manto de musgo e nenúfares, cheio de pássaros e outros animais de duas pernas a aproveitarem tudo o que aquele cenário tinha para oferecer... apesar disso, o combinado era ir ali ao café e seguindo e mapa, e seguindo o rio, e tornando a seguir o mapa e tornando a seguir o rio não havia café que se avistasse... e para além de não se avistar café, o que se avistava do caminho era cada vez mais... rio!

mas nós mantivemo-nos firmes no nosso princípio de andar até espichar, e só paramos quando chegamos à tal ilhota com o café... fechado! Para que não houvesse um motim foi altura de tirarmos a foto do Iglo, a foto por excelência, aquela onde estamos todos, todos, mas mesmo todos... ora reparem...

mesmo depois desta caminhada extra, e de todo o estrabucho que a mesma acarretou, ainda houve forças para continuar a confiar no mapa e foi o que de melhor fizemos! Jantarzinho no restaurante Cortes, bem melhor que o Manolo e praticamente pelo mesmo preço! É caso para dizer que vale a pena ir a Sigüeiro só para este magnífico repasto!

E como comida comida companhia desfeita era altura de voltar ao pavilhão... onde já se encontravam a dormir os peregrinos de Zaragoça, que não se tinham ido deitar sem terem tido o cuidado de colocarem 9 colchõezinhos no chão... para nosotros??? mas si, claro, cariño... agora somos amigos do peito!... ou isso ou esta foi uma manobra estratégica para minimizar possíveis incómodos de roncos nocturnos ... amizade... tem destas coisas...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O Iglo nos Caminhos de Santiago | Etapa 3


E eis que aí estava ele “O dia da subida”! o drama, o horror fizeram-nos prepararmo-nos logo em Betanzos com o cafezinho pró caminho. A nossa vda, mais as suas ocupantes, tinham instruções para nos encontrarem a meio da etapa, mais coisa menos coisa, lá pós lados de Leiro, e desta vez sem trocarem a vieira por paragens mais refrescantes!, porque se havia dia em que precisavamos da vda era este de certeza!E lá começamos a andar. A saída de Betanzos subia um pouquito mas nada que fosse extremamente penoso, pelo menos a comparar com os 10 km da etapa extra do dia anterior! E a viagem manteve-se assim calminha... subindo e andando plano, com uns odores Esposade nº5, num passeio tipo visita guiada à quinta, com cães, vacas e bezerros, mas também cavalos e póneis, com gente já de dieta à fruta depois da salada do dia anterior... excepção aberta, e muito bem aberta, para uns moranguinhos, que dois igloeiros foram arrancar não à beira da estrada mas ao meio do campo onde estavam bem protegidos, mas não a salvo do nosso olhar de lince... mas ai! o karma pó caminho... desta vez não considerou que a tomada de posse dos morangos fosse trabalho honesto ou fome genuína e vai de nos mostrar que quem anda por maus caminhos sofre um bom bocado...As Joanas estavam à nossa espera em Leiro e com notícias animadoras: o albergue era logo ali! Crentes de que tinhamos o dia já ganho, como se diz na gíria, reunimo-nos à volta de uns fantásticos biscoitos, (com o alto patrocínio da Confeitaria Real ... vão até lá e provem!... provem os biscoitos e o resto que é tudo muito, muito bom! – fofinha depois é uma bolinha de galinha pa compensar a publicidade, boa?)... e fizemos planos para tudo o que iamos fazer ao chegarmos ao albergue... A bem dizer chamar a este dia “o da subida” era para já um subido exagero.
A dita subida, tirando o início em Betanzos, tinha sido constante mas gradual. Mas um dos nossos peregrinos tinha informações recolhidas, logo no 1º dia, acerca de um parede de 1 km... havia quem já apostasse que essa parede não passava de um mito para assustar peregrinos incautos... mas havia quem apostasse que se ainda não tinha sido percorrida, a parede entrepunha-se obrigatoriamente entre nós e o albergue... mesdames et monsieurs: fait vous jeux!

E pouco depois de nos afastarmos das Joanas e da nossa confortável vda fomos confrontados com uma ah... como hei-de dizer?... cordilheira que só não é dos Andes porque de facto se situa em terras de nostros hermanos... mai de resto não lhe fica a dever nadinha! E o raio da abrupta elevação do terreno (ah, ah? da pinta!) não tava fácil de transpôr!... houve uma altura em que povo já nem sabia bem se preferia torcer para que o próximo cotovelo fosse menos a pique mas cheiinho de sol, ou mais inclinadinho, se bem que com sombra... valeu a consolação de lá no alto haver pêras e figos maduros, e muitos, muitos, muitos vitinhos para fotografar... e, claro, para quem venceu a etapa “CAMISOLA ROSAAAA!” valeu o prémio montanha e o esforço de lá chegar!


escusado será dizer que no cimo da parede foi preciso fazer outra paragem técnica... e que o caminho daí até ao albergue (6 kms segundo nos disse um simpático morador, mas é mentira, tem que ser mentira! nenhuns 6 kms podem alguma vez durar taaaaantooooo) foi pontuado por umas quantas mais paragens técnicas e todo ele, no geral, foi feito em ritmo rijo! eu tou rijo!!!



A chegada ao albergue foi épica! Tirando nós e os italianos de Barcelona (que coitados, queriam ter ficado em Leiro nesse dia, mas descobriram tarde demais – tipo, quando lá chegaram – que Leiro não recebe peregrinos) mais ninguém conseguiu vencer a difícil etapa da montanha e foi ver táxi atrás de táxi a parar e a descarregar peregrinos...

O albergue fazia jus à foto do guia... no meio de um aldeia perdida em nenhures, chamada Bruma, e se calhar por isso de difícil visualização, uma casa rústica totalmente recuperada, com um ribeirinho ao pé, que deu um jeitaço pa refrescar a vinhaça, e com um parque de diversões exactamente igual aos 749 413 que já tinhamos visto ao longo do caminho, quais cogumelos polulantes... querem um conselho? abram um franchise daquela empresa cá no norte e vendam o dito equipamento a todas as autarquias e mais algumas... a coisa rende!


A nossa vda demonstrou todo o seu potencial nesta etapa, porque a beleza rural de Bruma implicava que à volta não havia nada, nada, mas mesmo nada, onde se comprasse uma comidinha... os restantes peregrinos lá encomendaram por telefone o repasto, ao único restaurante de entregas ao domicílio que estava publicitado no albergue e que, rezam as más línguas, era propriedade da mulher do... encarregado do albergue!



E se o albergue de Bruma fazia jus à foto, o mesmo não se pode dizer do dito encarregado, que nos tinha sido vendido como uma pessoa de excepcional finura... esqueceram-se se calhar foi de dizer que o homem é de uma excepcional finura, acelerada... ou isso ou ele tinha ingerido nesse dia quantidade de cafeína igual ao seu peso em kilos... mira xicos ide bañarvos... ahora, ahora, xá! Xá se bañaram? Mira xicos, comam, comam (vá lá que não disse engulam!) e os dentes já lavaram? E o xixi já fizeram? Xá, xá? Entonces cama! Luces apagadas e Hasta mañana que xá são once e media (ai locura!)


... ufff depois desta prova de fogo (verdade seja dita que nunca ninguém tinha visto um albergue inteiro a ir pá cama todo ao mesmo tempo) não admirou que houvesse gente que tivesse de ir apanhar um pouco de ar, puro ou não, conforme os gostos, para... aliviar o stress... bem, todo, todo o albergue também é exagero... isto porque houve umas cinquentonas loiras que viram umas performances, de umas descidas arrojadas de um certo poste e disseram: “Arthur! I can’t belive it!” e vai daí em vez de seguirem os prudentes conselhos que o nosso encarregado dava em galego, optaram por outros celtas e vai de cantar alto, e não muito bom som, ♫ I've been a wild rover for many a year | And I spent all my money on whiskey and beer ♪
And its no, nay never… no nay never no more… agora é que eu nunca, nunca mais adormeço... clap clap

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Iglo nos Caminhos de Santiago | Etapa 2


Parecia que ia finalmente começar o nosso caminho berdá? pois por supuesto nesse dia andaríamos uns bons 25 km!
Começamos bem cedinho, à nossa frente iam as italianos e os espanhois de Zaragoça mas nós tinhamos menos peso que eles e iamos mais ligeiros, de forma que não tardou muito e passámo-los à frente... exclamações de ah! Por nos verem sem mochilas davam a entender que finalmente se desfazia o mistério da farta mesa na noite anterior... ou isso, ou nós não somos tão polidiotas como pensamos...
O dia prometia muito km... mas também muita fruta! amora, sempre disponível, mas também uns avanços na maçã, na uva, no pêssego, na ameixa... “roubar pa comer não é pecado” argumentava quem era confrontado com o facto de no dia anterior por se querer trazer um xacobeo emprestado por tempo indeterminado ia cair o carmo e a trindade no caminho...







Mas para além de todos estes atractivos o caminho ainda tinha praia! E estacionada em frente a ela, a nossa viatura de apoio (adiante designada por vda), sempre expedita, sempre pronta a ajudar. E estacionados em frente à vda ficamos nós, não fosse dar-se o caso de se repetir a linda figurinha do dia anterior de acenarmos uns aos outros, de costas... eu explico... nós vimos a nossa vda estacionada e, com o nosso olhar de lince, decidimos que estavam as Joanas lá dentro... vai daí acenamos... as Joanas, que tinham ido às compras, estavam atrás de nós no caminho... viram-nos a acenar mais à frente e, com o seu olhar de lince, julgaram que estavamos virados para trás e... acenaram... tratou-se portanto de um caso em que as Joanas acenavam à gente, que acenava à vda, que... não, lamento, mas a nossa vdazinha fazia muito mas não acenava a ninguém...
Feita a 1ª paragem técnica, com o cafezinho pó reforço e o paõzinho do almoço a ir-se embora, seguimos para Pontedeume... também conhecida por Podeume lá pós lados de Penafiel city... foi altura de os nossos gaijos se babarem pa cima das filmagens de uma telenovela espanhola... si chica, me gusta!... a nós não nos gostou foi nada! Vai de subir e subir e subir até vermos Pontedeume lá de cima... e depois vai de descer até ao Albergue de Miño.
Os 25 kms já pesavam nas pernas quando chegamos ao albergue e só queriamos era descansar... ou então tomar banhos de mar...
Logo à chegada fomos muito bem recebidos pela protecção civil encarregue daquele albergue. Nós ainda tentamos explicar que tinhamos vda e que alegremente cediamos os nossos lugares nas camas aos peregrinos que chegassem depois de nós com as mochilas às costas... como aliás se podia ler em letras grandes nos regulamento do albergue que estava afixado na parede! A nossa expert em castellaño bem se desunhou mas não havia maneira: eles tinham colchões e um pavilhão prontinho pa receber mais peregrinos... vai daí, imbuídos do espírito de irmandade e solidariedade que nos caracteriza decidimos ir embora e deixar o albergue para quem precisava...
não, não foi bem assim... mas teve perto! O que aconteceu foi que o Nando, sempre pronto a guiar-nos no caminho ficou a colher informações para o dia seguinte, também conhecido como “O da subida”. E desta vez a coisa era séria, porque segundo as nossas informações eram 38 km sempre a subir! E as informações que o Nando recolheu indicavam que de Miño até Betanzos eram 9 km. E aí podiamos dormir num pavilhão... ora logo ali houve quem juntasse dois mais dois e dissesse: “e se fossemos hoje até Betanzos?” os primeiros olhares à coisa tinham morto o maior rambo... mas depois lenta, lentamente, e com a nuvem ameaçadora dos 38 kms (a subir!!!) por cima da cabeça lá houve quórum para que mais pela fresca se continuasse caminho...

... e para continuar caminho nada melhor que ... uma garrafa de vinho! “se o australiano de 75 anos emborca uma e vai do Algarve a Santiago a pé, então a gente vai até Betanzos!”... e fomos mesmo! Com uma ajudinha do David Fonseca e aquela garrafa de vinho e em duas horitas estavamos na praça onde as Joanas estariam supostamente à nossa espera, junto a uma vieira... infelizmente parece que nenhuma esplanada tinha tido a peregrina ideia de se deslocar para junto da vieira, de modo que as Joanas tiveram uma certa dificuldade em ser encontradas...



Já devidamente instalados na sala de combate do pavilhão era chegada a altura de deixar pela primeira vez o “conforto” dos albergues... casa de banho era só uma e restantes salas também não havia... de modo que para além to fazermos o xixizinho, e tomarmos o banhinho na dita, ainda fizemos a saladinha e comemos o jantarzinho nos baños... como já é tradição, a gente quando se junta assim todos em sítio onde se toma banho, bebe vodka preta... que nem!
Convém dizer que até esta altura o saldo de bolhas e afins era extremamente positivo, mesmo com os roubos de fruta e isoladores pelo caminho (mas eu sinceramente acho que o roubo dos isoladores não dá mau karma, porque o peregrino pródigo esforça-se tanto e sua tanto pós conseguir, que o karma considera como trabalho honesto...)... mas nessa noite teve de ser (que amanhã sobe muito!!!) e ainda houve tempo para furar umas bolhitas esguichadoras antes de adormecer...
Mais um texto...Doutora Cocas