quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Anda alguém, pela noite de breu à procura, (...) desbravando os caminhos do pão

Era ainda tempo de tardes mais longas, o meridiano de Greenwhich ainda não tinha ditado o início do escurecer às 16h, de maneira que sair do Porto às 16h30 para rumar a Sejães, Oliveira de Frades, ainda ia muito, muito a tempo... como variados e numerosos mails fizeram questão de me explicar...
A nossa viagem para Sejães destinava-se a:
a) conhecer o Portugal profundo
b) perdermo-nos com o via michellin à frente dos olhos
c) apanhar castanha
d) participar num peddy paper, cujo título era “O Pão”
Se responderam seleccionando todas as alíneas, têm direito a ganhar a nossa montra de prémios!!! *... porque sim, fizemos tudo isso, embora quando partimos apenas fossemos a contar com a alínea d), o que retrata bem a maravilha das nossas viagens - trazem sempre bónus!
Estavamos portanto a sair da A25, em direcção a Vouzela / S. Pedro do Sul, para chegarmos a Oliveira de Frades, e o via michellin, que dava conta de inúmeras placas pela estrada, teimava em não reflectir o que nós viamos, ou seja, placas nada! Quase chegávamos a Vouzela quando alguém achou por bem ligar o GPS (em certas alturas também conhecido como Artur) e descobrir afinal para onde era o caminho... após finalmente atinarmos com o caminho para Oliveira de Frades faltava só descobrir aquela cortada mágica para Sejães... e foi aí que entrou em acção outra táctica geralmente muito usada quando queremos perder-nos: perguntar ao solicito transeunte... que tratou logo de nos ladrar (não é piada, o homem latia mesmo) para irmos por ali até lá baixo e depois virar par cima e não tem nada que enganar, é sempre por lá baixo, ou melhor, acima....
Quando finalmente chegamos a Sejães pensávamos que já iamos atrasados para o peddy paper... mas afinal chegamos foi cedo... duas horas mais cedo!!! Havia que entreter o tempo até ser hora de soar a partida, vai daí fomos em busca da castanha, motivados por um primeiro passeio donde chegaram bolsos carregados até mais não do precioso fruto... e lá encontramos um castanheiro que tinha docemente deixado cair os seus ouriços na terra... terra que pertencia a alguém com certeza... mas nós a caminho de Santiago já tinhamos mostrado que temos um conceito de propriedade privada um tanto ou quanto alternativo, consoante tenha ou não fruta à mão... reza a lenda que voltamos para o carro com 7, não, 8 kg de castanha!!!... infelizmente, tal como grande parte das lendas, acabou por se descobrir que tinha o seu fundo de verdade... mas era só o fundo mesmo...


E finalmente a tão desejada hora! as instruções para o peddy paper e a inscrição da nossa equipa já estavam ok, cada equipa ia partir com 3 minutos de intervalo da outra e... 3 minutos? mas quantas equipas tem esta porra? afinal parece que de 3 em 3 minutos ainda íamos ficar à espera mais uma boa meia hora... tempo em que aproveitamos para... ir à fruta! (em equipa que ganha não se mexe tá?)... desta vez diospiros porque já se fazia hora de jantar e afinal já tinhamos 8 kg de castanha!

Barriguinha composta para alguns, ar de asco para outros, agora sim, iamos arrancar! E a primeira paragem começou logo a nosso gosto: a prova, como bem diz o nome, era beber a uma malga de vinho! Tinhamos uma malga para cada um dos elementos da equipa... quem bebe bebe, quem não bebe, dá a beber... é que é mesmo de provas assim que a gente gosta... e de ter gaijas que não bebem na equipa!

Lá continuamos sempre atentos, estilo escuteiro alerta... tão atentos, tão atentos que até conseguimos fazer duas provas da folha do peddy paper que ainda não nos tinham dado! A gente é muito à frente!... pensam vocês... mas, de facto, é mais assim... a prova consistia em apanhar figos numa figueira por onde passamos... ora desde quando é que a gente precisa de instruções para apanhar fruta?! Por sorte houve quem quisesse levar alguns figos para casa e vai daí ficamos logo com metade do trabalho feito... a outra metade do trabalho foi convencer a gaija que queria levar os figos para casa a separar-se de um deles...


Depois chegou o primeiro ponto de discórdia... esquerda ou direita? direita ou esquerda? fomos pela direita e ainda bem porque... irmãos a gente viu a luz! De volta aos caminhos de escuridão por onde andávamos, era tempo de começar a descer para o rio... pelo caminho já tinhamos recolhido a espiga e o grão do milho, estava na altura de chegar ao moinho para ver a maravilha da técnica a funcionar... ainda durante a descida foi altura do momento zen... apaga a luz, apaga a luz... deixa que esta atmosfera te envolva, deixa que os teus sentidos te guiem, avança no escuro, sem medo!... olha lá, vocês acham que a gente assim sem lanternas vê as pistas? ah uhm... pois se calhar não...

Quando finalmente avistamos o moinho fomos recebidos por uma menina de olhos muito doces... e dotada de visão raio-X! Tratou logo de nos levar atrás do moinho, para vermos a área que ia ficar submersa quando a barragem que estão a construir ficar operacional... para vermos... enfim... ela parecia ver alguma coisa, a gente via a escuridão à nossa frente e pra mais não dava... por falar em barragem que estão a construir.... sabem que rio é este, que passa na aldeia de Sejães, sabem? ah, pois não sabem... Mas para além de termos que pôr o nosso grão a dar farinha ainda tinhamos que resolver um enigma... assim um daqueles puzzles com cordas e peças de pôr e tirar... e teriamos conseguido.... se tivessemos tido mais tempo... e mais mãos...
Estando nós lá em baixo ao pé do rio só nos restava subir para continuarmos em prova. Como é costume os santos ajudarem à descida nós achamos por bem pedir ajuda à santa para a subida... o problema é que outras equipas que por lá tinham passado primeiro acharam que a coisa ia correr melhor, não só se pedissem ajuda, mas se levassem a santa mesmo... Mesmo assim ainda conseguimos chegar até bom porto, que é como quem diz à famosérrima igreja de Sejães, onde a organização se esforçou por agradar a quem já estava com fome e com sede de tanto percorrer Sejães by night... lá fomos ver a belíssima igreja e aprender sobre o seu santo padroeiro, a sua pia baptismal e as suas 8 ou 9 pombas da paz, dependendo do ponto de vista!

Agora com a segunda parte das instruções na mão era altura de voltarmos a Sejães city e de nos esmerarmos na prova serenata ao luar! A organização até tinha viola e capa pousadinhas no chão, para os trovadores mais dotados: os nossos! Lá brilhamos que nem umas estrelas a cantar a Linda Donzela... até à parte do refrão... depois disso nada... silêncio... adeusinho à linda senhora que estava, não na janela, mas na varanda da casa, e lá continuamos ladeira acima, com o nosso trovador de serviço a dizer é pá esqueci-me do resto da letra! ora aqui convém referir que havia quem nessa noite estivesse afónica... assim tipo não dar pio mesmo... mas nessa altura achou por bem arranjar assim um restinho de cordas vocais pra dizer que eram os cabelos ondas que o vento leva pó mar! ó seu apedeuta! o trovador de serviço não gostou, deu meia volta, e disse vamos lá cantar o resto!... e fomos mesmo... linda donzela, tal e tal, refrão tá bem, engata logo nos cabelos que agora já sabemos a letra... e os acordes? como é que eram os acordes desta parte? ... ai a porra! ... o que valeu é que depois disto tudo fomos a equipa com mais pontos nesta prova! (também verdade seja dita, viemos a descobrir que houve quem cantasse o malhão!!!) ... o que não valeu foi que depois disto tudo, o sucesso foi tanto, que tivemos que cantar a musiqinha mais 7456 vezes...
A cantoria deixou-nos outra vez com sede, e por isso veio mesmo a calhar que a prova seguinte fosse na cozinha da dona Juju! ... a rapidez destas equipas estava a fintar a organização da prova, de maneira que foi preciso esperar um bom bocado até a equipa anterior libertar a cozinha... tempo esse em que aproveitamos para realizar o sonho que a dona Juju tinha desde o início da noite, altura em que começaram a bater-lhe à porta uns seres estranhos e, acima de tudo, com umas luzes na cabeça, tão giras, mas tão engraçadas! ai que a dona Juju nunca tinha visto uma coisa daquelas! Lá dentro fomos premiados pelo tempo de espera... para além do vinhinho e dos biscoitos, a cozinha da dona Juju era perfeita para a caça ao tesouro que se seguiu! Arranja fermento, arranja sal... arranja ainda maneira de saber quem é o pai do tio do primo que é irmão da avó e quantos fósforos é que são precisos para construir 5 quadrados... ufff... saimos de lá outra vez com a sensação que teríamos feito melhor se tivessemos tido mais tempo... e mais cérebros?

O peddy paper estava a acabar mas havia ainda festa rija em Sejães nesse dia... porque a dona Olinda fazia anos! e nós como convidados da terra, lá fomos dar os parabéns e levar uma prendinha... uma prendinha muito ao nosso gosto, que nos orgulhamos de oferecer em todos os aniversários (quer o povo queira quer não...) e uma musiquinha a condizer, a nossa raposódia de parabéns, certo? ... errado!... é que entretanto a notícia da nossa performance a cantar a Linda Donzela já tinha corrido Sejães, de maneira que toca a ajoelhar no chão, e a mostrar à dona Olinda toda a melodia da nossa voz (até os afónicos tá?)... foi bonito de ver... a dona Olinda até lacrimou... Para recompensar mais esta cantoria (eu sei que me repito mas não posso deixar de o dizer) à saída da dona Olinda mais vinho e pãozinho acabadinho de sair do forno!
Estava na hora de acabar e regressamos à base, que é como quem diz ao local onde a comida e a bebida estavam à nossa espera! Agora a fome já era pouca, mas lá conseguimos, engulir um caldinho verde, e usar um quadrado de aletria para empurrar outro quadrado... a organização atarefava-se a contar pontos e a fazer quadros classificativos... e enquanto se espera... porque não cantar mais uma musuiquinha? não sei, assim qualquer coisa que ainda não tivessemos ouvido hoje... qualquer coisa assim como a... Linda Donzela?
Já vinhamos embora, com a promessa de voltarmos para uns passeios durante o dia, uns pic-nics e assim, quando alguém dá por falta do telemóvel... onde está? onde não caiu?... tudo se resolveu e o telemóvel lá apareceu... e a viagem de volta
foi silenciosa...

Texto da autoria de Cocas a Doutora dos Blumes